Em 6 de agosto de 1996, há 25 anos, os Ramones subiam juntos pela última vez em um palco. O evento, que aconteceu em Hollywood, nos Estados Unidos, celebrou o fim da banda, tida por muitos como os pais do punk rock.
Em homenagem a essa data especial, o Papo de Tribhus contará um pouco da história do estilo que resgatou as raízes do rock e subverteu o mundo.
Antecedentes
No fim dos anos 1960 o rock progressivo e o hard rock começavam a tomar conta do cenário e o excesso de virtuosismo e músicas super longas desagradavam uma parcela do público jovem que consumia o estilo.
É nessa época que começam a surgir bandas que iniciam uma mudança nesse perfil, como o MC5 e Iggy Pop and The Stooges. Muito influenciados pelo garage rock, esses grupos trazem um som mais cru e veloz. Além disso, já era possível encontrar elementos do que viria a ser o punk rock também nas letras desses grupos, como o tédio e a insatisfação de uma geração que não via horizontes para si.
Esses grupos são comumente chamados de protopunks, pois influenciariam de maneira muito importante uma série de bandas que começariam a surgir na década seguinte.
Já em 1971, nasce o New York Dolls, com visual andrógino e músicas potentes, o grupo é um ponto de intersecção entre o punk rock e o glam rock. É a partir dos Dolls que um jovem inglês, chamado Malcolm McLaren, teria a inspiração do que anos mais tarde se consagraria na grande explosão do punk rock.
CBGB’s e o punk norte americano
Na história sempre existem lugares que se tornam icônicos por terem abrigado algo único. É o caso, por exemplo, do Cavern Club, em Liverpool, na Inglaterra, que foi onde os Beatles se tornaram um sucesso.
No caso do punk rock, esse lugar se chamava CBGB OMFUG. Fundado em 1973 por Hilly Kristal, a casa seria o berço do punk americano, abrigando shows de bandas como Television, Richard Hell, Johnny Thunders and The Heartbreakers, Blondie, Dead Boys, entre outros. Contudo, o principal nome que se formou naquele local foram os Ramones.
Formada em 1974 por quatro jovens do Queens, a banda foi um divisor de águas para o estilo. Vestidos com jeans rasgados, camisetas justas e jaquetas de couro, o grupo parecia uma gangue e chamava atenção com suas músicas rápidas, agressivas e simples.
Os shows cheios de energia não duravam mais do que 25 minutos com cerca de uma dúzia de músicas tocadas e começaram a chamar a atenção do público. Em 1975 assinaram com a Sire Records e gravaram seu primeiro disco, o homônimo Ramones. Lançado em 1976, o disco não decolou nos EUA, mas quando os Ramones chegaram à Inglaterra, em julho daquele ano, encontraram outro cenário.
Os jovens ingleses viviam uma crise social com grandes níveis de desemprego nas famílias e a crueza e violência do som punk se apresentou como a válvula de escape perfeita para aquele público.
O punk inglês
Dizem que todos os jovens presentes no primeiro show dos Ramones na Inglaterra saíram de lá e criaram uma banda.
Fato é que não demorou para que os ingleses criassem sua própria cena, com o surgimento de bandas como The Damned, banda que lançou o primeiro single do punk inglês, com a música “New Rose”, e também o primeiro LP, o “Damned, Damned, Damned”, The Clash, The Jam, Buzzcocks, UK Subs, The Vibrators, entre muitas outras.
Contudo, voltamos ao jovem Malcolm McLaren. Ele era dono de uma loja de roupas fetichistas onde, após sua experiência com o New York Dolls, criou a banda que se tornaria o principal símbolo da explosão do punk inglês, os Sex Pistols.
A banda mudou os rumos do que era o punk rock. Após assinar um contrato com a gravadora EMI, eles gravaram o single “Anarchy in the U.K.”. Foi quando o grupo foi convidado a participar de um dos programas de TV com maior audiência na Inglaterra e, pela primeira vez na história, é dito um palavrão ao vivo na TV inglesa. O resultado foi avassalador, a EMI expulsa os Pistols, mas o single já era um sucesso, vendendo milhares de cópias diariamente.
A premissa política carregada no som da banda se mostrava um perigo para o instável momento do país e os shows da banda começam a ser proibidos. Uma turnê com o The Clash tem várias datas canceladas no país e a banda ganha ainda mais fama.
O golpe final foi o lançamento do irônico single “God Save The Queen”. A música que ironizava a principal figura do Estado inglês foi lançada no dia do Jubileu de Prata da Rainha e atingiu o topo das paradas britânicas. A partir disso, o punk rock não podia mais ser parado.
No Brasil
Os feitos dos Sex Pistols na Inglaterra ecoaram pelo mundo inteiro e não demorou para que chegasse ao Brasil.
Já no fim dos anos 1970 o país tinha suas primeiras bandas do estilo se formando nos subúrbios de São Paulo e do ABC Paulista.
Nomes como Restos de Nada, Cólera, Condutores de Cadáver, Inocentes, AI-5, Olho Seco e Ratos de Porão fizeram parte dessa primeira onda, que foi marcada por um evento no SESC Pompeia. Chamado de O Início do Fim do Mundo, o festival durou dois dias e recebeu 20 bandas.
Com pouco dinheiro para investir, os primeiros registros do punk nacional são compilações, como o disco Grito Suburbano, de 1982, que reúne músicas de Olho Seco, Cólera e Inocentes, e o SUB, de 1983, com participação das bandas Ratos de Porão, Cólera, Psykoze e Fogo Cruzado.
Uma boa dica para conhecer mais da história do punk no Brasil é o documentário Botinada, de Gastão Moreira.